Aqui que ninguém nos ouve...
Talvez a maioria dos nortenhos conheça mal o Alentejo, já que apenas se serve desta região do país, para fazer a travessia, em direcção ao Algarve
Para contrariar essa tendência, nada como apreciar melhor a riqueza do seu património, a beleza das suas paisagens e a hospitalidade das suas gentes.
(o PDA GPS deu-me uma boa ajuda na escolha dos percursos)
Évora e Beja, serão os pontos mais conhecidos.
No intuito de melhor conhecer esta região, decidi fazer uma primeira digressão pelo seu interior, por um período de duas semanas - a surpresa foi enorme - .
O Alentejo não é apenas a planície imensa, a praia enorme de trigais ressequidos morrendo ao longe no céu, não se resume a grandes espaços lisos de ar sem asas, sem vento, de silêncios conventuais e de terras sêcas. Tem montes, tem rios a correr para outros rios, trilhos de água de Inverno, brechas secas no estio.
O Alentejo, tem um rio grande, o Guadiana, sempre descendo para o mar, em cujas margens dizem, se moía pobreza e solidão
No Alentejo, colinas suaves vestidas de verde polvilhadas de sobreiros, grupos de eucaliptos, montes" brancos e amarelos onde os ventos se prendem. O Alentejo tem flores, pássaros, cegonhas, rolas, coelhos e perdizes que atravessam as longas estradas planas
O Alentejo não tem apenas herdades, tem muitas aldeias de casas brancas, erguidas com perfeita geometria, casas baixinhas de um só piso, com largas barras coloridas de amarelo ou azul a enquadrar o caiado das mesmas
janelas sombrias onde raramente alguém assoma
chaminés enormes nas fachadas
verdes parreiras e laranjeiras ensombrando as portas e os quintais, muitas igrejas e castelos.
No Alentejo não existe apenas a melodia dos chocalhos do gado, tem também vozes de gente boa e simples, com quem é bom estar.
Era tempo de redescobrir o Alentejo.
Dia 10/10 a meio da tarde, saí de
Braga pelo litoral até à
Figueira da Foz onde pernoitei.
Dia 11 - segui calmamente por
Leiria, Marinha Grande Alcabideche Torres Vedras Turcifal Mafra Sintra até ao
Guincho (Cascais).
Dia 12 fiz o percurso pela marginal de Cascais até Alcântara, continuando pela ponte 25 de Abril até
Setúbal, prosseguindo por
Alcácer do Sal, onde parei no
Restaurante Km 10 no intuito de abraçar amigo, que por pouco não encontraria já que estava de partida para a caça do javali. Prossegui para
Beja onde fiquei.
Dia 13 visita à cidade de
Beja. O silêncio da cidade foi quebrado com a estudantada em desfile pela cidade.
Para quem como eu gosta de utilizar a bicicleta, registei com agrado a existência de agradáveis Ecovias, e bem assim da existência de bicicletas (PETRAS Plano Estrarégico de Transportes e de Mobilidade de Beja) para utilização gratuita por munícipes ou visitante.
Dia 14 Saída para
Mértola.
Mértola debruçada sobre o grande rio do sul (Guadiana), agradável para quem queira descobrir os seus encantos, um manancial de história, a tradição e a natureza.
Continuação da viagem para
Pulo do Lobo pois tinha em tempos lido algo sobre o sítio num dos cadernos do ''Expresso''.
O Pulo do Lobo trata-se de zona do Guadiana, onde o rio encolhe de tal maneira por entre veredas graníticas, que quase se salta para o outro lado.
Chega-se lá desde
Amendoeira, por uma estrada de terra batida com cerca de uma dezena de quilómetros até alcançar o rio. Apesar disso e de ter de fazer novamente o mesmo trajecto de volta, a viajem vale a pena e o sítio merece bem o sacrifício. Observei durante a viagem várias dezenas de bandos de perdizes e alguns coelhos se cruzaram comigo. Embora não sendo eu caçador, nunca tinha visto tanta perdiz.
Finalmente, chegado ao
Pulo do Lobo, por caminhos desertos onde não encontrei vivalma, do alto do monte, a panorâmica geral faz-nos perceber rapidamente o porquê do nome. Trata-se de um estrangulamento geológico natural, onde o rio Guadiana se encolhe. O que acontece é que o rio passa, de repente, dos cerca de uma trintena de metros de largura para três metros e, como consequência, o rio comprime-se e a corrente acelera.
O local é de uma enorme beleza selvagem, um autêntico prémio da natureza, com um silencio apenas cortado pelo bater das águas envoltas.
Aliás, o
Pulo do Lobo aparenta ser bastante desconhecido , É verdade que os acessos não facilitam a divulgação do local meteu-me dó fazer o percurso na Auto-Caravana ainda a cheirar a nova, tal o estado da esburacada terra batida.Local de visita obrigatória que deveria constar das várias informações turísticas de Portugal.
Lá voltei até próximo de
Mértola, subir de novo até
Beja onde pernoitei de novo.
Dia 15 Pela manhã prossegui viajem por
Baleizão até
Serpa, onde pernoitei.
Assisti à chegada dum rali de carros antigos que percorria a região.
Serpa povoação fortificada, com o seu bairro de casario rasteiro, branco de cal, ruas estreitas e sinuosas, paredes meias com casas fidalgas ostentando lindos brasões de família.
Dia 16 Saída de
Serpa passagem de novo em
Beja com paragem em
Cuba.
As interpretações quanto à origem do topónimo Cuba adiantam duas hipóteses: uma segundo a qual Cuba seria a adulteração da palavra árabe COBA que quer dizer TORRINHA (diminutivo de Torre), e outra que vai buscar a sua explicação ao facto dos soldados de D. Sancho II terem encontrado muitas cubas de vinho quando da conquista da vila aos mouros.
Há registos arqueológicos que provam ter sido Cuba habitada desde a pré-história (cultura megalítica, 4 000 a 2 000 a.C.)
Prossegui viagem para almoçar no
Alvito.
Com uma superfície de 261 Km2 e uma população de quase 3 mil habitantes é um dos concelhos mais pequenos do baixo Alentejo.No que se refere ao Património Histórico e arquitectónico, este existe espalhado por todo o concelho, apresentando vestígios de ocupação humana que remontam ao período neolítico, guarda contudo importantes marcos que testemunham a passagem de povos, como foram os Suevos, os Visigodos, os Romanos e os Árabes, cabendo aos últimos a transmissão de uma riqueza cultural que chegou até aos nossos dias.
Visitei
as ruínas de S. Cucufate monumento encravado nos campos. A sua longa e diversificada história começa com a ocupação do local a partir do Neolítico Final, tendo sido depois habitado por uma população pré-romana. Foi só em meados do século I d.C. que seu deu lugar à construção de uma villa.
No âmago do Alentejo a quatro léguas de Beja, na fronteira do Alto para o Baixo Alentejo, a Vila da Vidigueira não tem só em redor a imensidão das searas, tem hortas com laranjais, olivais imensos e vinhas muitas.
Prosseguindo cheguei a Moura.
Moura Na zona mais alta da cidade, o castelo, por onde passou grande parte da história de Moura, e ainda a riqueza arquitectónica de igrejas e conventos - terra de águas medicinais onde existem termas desde 1899.
Bem situada na planície, de onde se avista o paredão da barragem do Alqueva.
Dia 17 Pelas 11 horas continuei viajem até ao Alqueva tendo almoçado ao lado da barragem.
Alqueva 1 milhão e 100 mil m3 de betão 20 mil toneladas de aço 9 milhões de horas de trabalho.
Continuando a este da albufeira, surge a nova Aldeia da Luz.
Aldeia da Luz A nova aldeia renascida pelo surgimento do grande lago.
A outra, a antiga, fica no fundo da albufeira.
Alentejana na forma, casas térreas, caiadas de branco com barras coloridas de amarelo e azul, desconhecendo se continuam Alentejanas por dentro.
As pessoas que lá vivem, já não se sentam na soleira da porta ao fim do dia a apreciar a fresca e a gente que passa
Passei Mourão
Deixei-me enebriar com as vistas oferecidas do alto de Monsaraz com o Guadiana a separar Portugal de Espanha e a grande albufeira do Alqueva - .
Monsaraz - Lindíssima vila medieval, conseguiu manter as suas características ao longo dos séculos. Um passeio a Monsaraz é também uma viagem no tempo, pois é um local único onde ainda se consegue encontrar a paz e a tranquilidade esquecidas pelos tempos modernos. Marcada pela cal e pelo xisto, torna-se "Monsaraz Museu Aberto",. No património destacam-se o Castelo e a Torre de Menagem medievais, o edifício dos Antigos Paços da Audiência (séc. XIV/XVI) e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lagoa (séc. XVI/XVII).
Prosseguindo pela estreita estrada de Telheiros, passei Reguengos e pernoitei no
Redondo - A vila alentejana do Redondo tornou-se importante para o património português através de dois produtos regionais: o barro e o vinho. A produção artesanal de peças de barro é conhecida no país inteiro. Aqui pode-se encontrar loiça utilitária e decorativa, de barro simples ou decorada com motivos florais e cenas populares da vida no campo. O barro desta região tem a propriedade de suportar a variação de temperaturas. Esta actividade é mantida na vila por vários centros oleiros que perpetuam esta actividade na vila. O Redondo é ainda conhecido pela produção de vinho, sendo uma das regiões de Denominação de Origem Controlada (D.O.C.) em Portugal. Produzido em solos graníticos e de xisto, o vinho como é sabido, é equilibrado e de agradável bouquet.
Dia 18 Do Redondo passei o Alandroal
Com cerca de 7.500 habitantes, visitei o seu Castelo, as suas igrejas e ermidas.
Passei de fugida em Vila Viçosa
já que mais de uma vez lá tinha passado, e continuei por
Borba Elvas indo almoçar a Juromenha.
Voltei a Elvas descendo de novo até Ajuda ponte antiga destruída e passei a nova ponte até Olivença.
Prosseguindo por Badajoz, pernoitei em Elvas.
Elvas Quem chega pela estrada de Estremoz a Elvas é de imediato recebido pelo Aqueduto da Amoreira, um ex-libris da cidade. Esta calma cidade é conhecida pelo papel defensivo que teve ao longo da história. Numa posição geográfica estratégica, próxima da fronteira com Espanha, foi sendo construída dentro de muralhas, num sistema defensivo complexo. A muralha inicial do séc. XIV (reinado de D. Fernando 1367-83) foi reforçada no séc. XVII. A cidade muralhada, em conjunto com o Forte de Sta Luzia e o Forte da Graça, forma uma linha de defesa que foi extremamente importante durante a Guerra da Restauração (1640). Com interesse na área defensiva, podem-se ainda ver pequenas fortificações construídas no início do séc. XIX, entre 1810 e 1812, durante as Invasões Francesas. São eles: o Fortim de São Pedro, o Fortim de São Mamede, o Fortim da Piedade e o Fortim de São Francisco. Actualmente Elvas é uma cidade que aposta no turismo, especialmente no Turismo no Espaço Rural, na pesca desportiva de água doce e no Turismo Cinegético, de forma a tirar grande proveito dos recursos naturais da região. A nível económico, os cereais, a azeitona e os frutos secos (sobretudo as ameixas) continuam a ser os produtos de referência.
Dia 19 De Elvas passei a Estremoz, estacionando na enorme praça alcatifada com pedrinhas de mármore.
Almocei e fui tomar o café no lindo Café Águias DOuro.
Estremoz - possui um rico património cultural, no qual se destaca o castelo com as suas muralhas medievais e a antiga cidadela (séc. XIII) onde está actualmente situada a Pousada de Portugal Santa Isabel. Estremoz tornou-se conhecida sobretudo pela extracção e exploração do mármore branco, de grande qualidade. Na verdade, a região contribui em 90% para o facto de Portugal ser o segundo maior exportador de mármore do mundo. Igualmente famosos são os barros vermelhos da região, que deram origem aos bonecos tradicionais tão fáceis de encontrar nas lojas de artesanato da cidade.
Segui por Monforte Uma linda praça central de empedrado à portuguesa enquadrado por majestosos edifícios e laranjeiras Ouvem-se os ecos do falar de quem passa, como se numa grande sala de visitas se tratara. Num espaço tão pequeno, um rico património de 3 igrejas.
Continuei por Fronteira, e ainda Alter do Chão
pernoitando no Crato.
Dia 20 Ao amanhecer caminhei pelo Crato e entrei numa padaria onde comprei uns "pãesinhos de azeite'' - que delícia..., a chuva começou a surgir e continuei viajem, parando numa pequena e linda povoação de nome Flor da Rosa
Um castelo, um convento e um paço ducal, construídos em tempos diferentes, deram origem a uma eclética obra de arquitectura com uma harmonia de rara beleza. A mística deste antigo mosteiro medieval da Ordem de Malta sente-se em cada espaço. A Pousada Flor da Rosa soube potenciar as características mais genuínas do monumento e evidenciá-las com uma intervenção arquitectónica que, embora moderna, respeitou integralmente as suas origens. Prosseguindo, fiz uma pequena paragem em Nisa em cuja rua principal, me cruzei, com velho amigo que não via desde há 33 anos!...
Começou a chover e a surgir denso nevoeiro, decidi fazer uma directa com paragens em Vila Velha de Ródão, Fundão, Castelo Branco, prosseguindo pela Guarda IP5 Estarreja e finalmente às 22 horas estava em Braga a tomar o meu duche em casa.
Viajem inesquecível - a repetir com mais tempo.
Km percorridos: 1910